domingo, 29 de agosto de 2010


MANIFESTO DE RECONHECIMENTO E AGRADECIMENTO PÚBLICO A PROFESSORA ADRIANA FLÁVIA SANTOS DE OLIVEIRA LIMA

Adriana Flávia nasceu em Fortaleza, no dia 24 de julho de 1955, filha do professor Lauro de Oliveira Lima, referência na educação brasileira, e de Maria Elizabete. Sua história de vida foi marcada pelo contexto sócio-político vivenciado por seu pai, um grande educador, pesquisador da teoria piagetiana que provocou grande impacto em sua formação, colaborando diretamente no seu crescimento e desenvolvimento profissional.

Em 1972 prestou vestibular e foi aprovada para Física, Matemática e Astronomia (todos na Universidade Federal Fluminense); mas, depois de algum tempo, mudou a opção de curso em função do chamado para ajudar seus pais na fundação da escola A CHAVE DO TAMANHO. Essa nova opção a levou a novos vestibulares, acabando por escolher o curso de Pedagogia, que se concluiria somente em 1977.

Ainda em 1972 conheceu Alan Melo Marinho de Albuquerque, jornalista e recém saído da prisão política da ditadura, que seria seu futuro marido e pai dos seus três filhos. Em 1974 casaram-se e passaram dois meses na Europa visitando amigos exilados. Davi foi seu primeiro filho, que nasceu em outubro de 1975.

Os primeiro anos da CHAVE DO TAMANHO foram oportunos e extremamente ricos na construção de sua identidade profissional, possibilitando a consolidação de sua visão e prática político-pedagógica. Estudava sábados inteiros com o próprio professor Lauro, participava de congressos e cursos. Continuou estudando filosofia e política nos movimentos de esquerda. Militava na Comissão estudantil do VAR-PALMARES e, mais tarde, participaria de outros grupos políticos.

Em 1976 iniciou um trabalho no morro do CATUMBI, no Rio de Janeiro. Sua idéia era levar todo o conhecimento gerado na “Chave” para as camadas populares. Partilhou muitos trabalhos com o seu colega Antonio Valente (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Este trabalho foi fértil e geraria, um pouco mais adiante, seu primeiro livro: ”Pré escola e Alfabetização”, prefaciado por Paulo Freire.

Os trabalhos políticos neste período passaram a ser prioridade, tendo militado em associações de moradores e sindicato de professores. Foi fundadora do sindicato dos professores públicos do Rio de Janeiro, e envolvida em campanhas eleitorais do professor Raimundo de Oliveira, bem como, mais tarde, de outros candidatos. Esta militância em eleições foi até 1986 aproximadamente, quando se afastou substancialmente da política partidária

Em 1979 nasce João Felipe, seu segundo filho, e nesse período fez a pós-graduação em Pesquisa em Ciências Sociais na Fundação Getúlio Vargas.

Sendo selecionada para trabalhar nas reformas progressistas propostas por Ecléia Guazelli no atendimento ao menor no Rio de Janeiro e no Brasil, ingressou na Funabem, mais tarde Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência, onde participou dos mais variados projetos de educação com crianças e adolescentes, de Diretora de escola a projeto de registro de experiências, que contemplou, por exemplo, o Sr. Augusto, responsável por universalizar o ensino no município de ICAPUI – CE. Alfabetizou nas praças, criou o RECRIANÇA e alguns projetos com menores infratores.

Em 1980 participou, como uma das coordenadoras, do 1º Congresso Piagetiano.

Em 1982 nasce a filha Ana Beatriz. Nos anos que se seguiram dedicou-se aos mais diversos projetos de educação popular (Assentamentos Humanos, INCRA, favelas etc). O destaque deste período foi o Projeto de Educação Básica na Baixada Fluminense, em convênio com a UNICEF e que gerou seu segundo livro “Educação de Jovens e Adultos e a Reconstrução da Escola” (VOZES) – esse projeto foi premiado pela UNESCO.

Cursa e conclui o Mestrado no IESAE- Fundação Getúlio Vargas, no final da década de 80 e nos primeiros anos da década de 90.

Em 1992 viaja para o Reino Unido – University College of Swansea, para cursar o Doutorado, onde defendeu a tese: “Intelectuais, conhecimento e poder”.

Em 1994 publicou a tese de Mestrado:”Avaliação Escolar: julgamento ou construção?”

Chega em Fortaleza em 1994 e entra na sociedade da escola A Chave do Tamanho, transformando-a em “Colégio Oliveira Lima”. Nestes últimos dez anos, trabalhando em cursos, assessorias e outras atividades de pesquisa, publica dois livros: “Fazer Escola” e “Conversas”, um dos períodos mais férteis em relações pedagógicas. Neste período desenvolveu atividades de formação docente e liderou um grupo significativo de estudos piagetianos e demais temas formativos relacionados à educação. Hoje, 16 anos após sua chegada à Fortaleza, contribuíu de maneira muito prática e objetiva para os quadros educacionais do Ceará, sendo diretamente responsável pela formação de grandes educadores que atuam na gestão pedagógica de diversas instituições de ensino em Fortaleza e em todo o Brasil, assim como no exterior.

Hoje Adriana Flávia é membro da Academia Cearense de Ciências Sociais, cadeira 36, escritora renomada em todo o Brasil, assessora pedagógica, pesquisadora e uma grande formadora de professores. Seu trabalho é reconhecido e legitimado por pesquisadores do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro e Ceará.

Estas são algumas informações breves sobre a sua história profissional, sobre sua trajetória enquanto educadora, assim como um documento público que expressa o valor, o reconhecimento e o agradecimento de todos os educadores que tiveram a chance e a oportunidade de terem feito parte dos grupos de estudos e pesquisas liderados por Adriana, bem como da sua capacidade de transformar professores em seu processo de desenvolvimento profissional em verdadeiros educadores, pesquisadores na luta por um país alfabetizado e democrático.

MANIFESTO PÚBLICO DE APOIO A PROFESSORA ADRIANA OLIVEIRA LIMA

Nós, educadores, gostaríamos de manifestar publicamente nosso apreço e a importância da Profª Adriana Oliveira Lima no cenário da educação cearense. Durante todos esses anos acompanhamos a construção de duas de suas obras (Fazer Escola e CONVERSAS- Ed. VOZES) que modificou nossa visão de educação. Podemos dizer o quanto a sociedade cearense foi beneficiada por todos estes anos que ela dedicou a formar profissionais e estudantes.

Muitos de nós que exercemos liderança nas escolas e órgãos educacionais do nosso Estado tivemos a oportunidade de trabalhar e/ou estudar com ela onde aprendemos além das bases de uma educação diferenciada, a base moral do compromisso com a criança, com a família e com a educação de maneira geral.

Fortaleza, 20 de Agosto de 2010

VÂNNY RODRIGUES DE OLIVEIRA -Pedagoga, Supervisora Pedagógica Colégio 7 de Setembro

STEFÂNIA SALAS DA SILVA - Professora, Coordenadora pedagógica

DANIELA MIRANDA DA COSTA MACAMBIRA- Pedagoga, Diretora Pedagógica

REGIANA NEPOMUCENO ROCHA - Ma Educação, Supervisora Pedagógica, Profa. Universitária

FERNANDA RAMOS DE ALMEIDA -pedagoga, psicopedagoga e coordenadora pedagógica

KATIA VERUSKA FLORENÇO MARTINS DE OLIVEIRA- Especialista em Gestão Escolar

VANESIA GOMES DOS SANTOS- Arte -Educadora e Atriz

MABELLY LIMA DE OLIVEIRA - Professora

LARA S. BRAGA HOLANDA -Professora no Canarinho

MÔNICA PEDROSA COLLARES - Supervisora no ANTARES

KEMILLE MENDONÇA MACIEL- Supervisora no ANTARES

SOLANGE MARIA ALVES COSTA -Professora, pós graduada

JULIANA RAMOS PORTO -pós graduada

ROSSANA CRISTINA DE AZEVEDO SOUSA - Professora do Estado

NÚBIA REIS - pós graduada. Supervisora ANTARES.

Andreia Gondim de Oliveira Professora/ ONG Comunicação e Cultura
Viviane Salviano Lopes Veras Professora
Cristine Rocha Medeiros Gestora de Projetos Educacionais

SILENO SILVINO -Coordenadora Pedagógica

Tâmara Bezerra- Pesquisadora e Coordenadora da associação Aracê e Assessora pedagógica- Iprede

Cristiane Rodrigues-

Regina Esteves: Ma. Diretora Pedagogica da Fundação Batista Central( Kerigma)

Karina Golignac- Supervisora Calgary Boarding Education- Alberta Canadá

Kelma Perez- Supervisora Colégio Santa Cecília

Mirna de Sá Barreto e Moraes_ Supervisora Pedagógica Fundação Batista Central

Rebeka Costa- Ma. Professora de Educação Infantil Colégio Kerigma

Samia Andrade- Coordenadora Colégio kerigma

Tersinha: Coordenadora Creche Escola Artmanha

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Enem nem dá 1º Lugar aos Empresários Cearenses!!




É isso mesmo! Saiu a divulgação do resultado nacional do Enem(Exame Nacional do Ensino Médio). Eu, como toda nordestina, precisamente cearense e ainda mais envolvida na educação faço minha leitura sobre o que vem a ser de fato o resultado do ENEM para escolas que ainda vivem na realidade pedagógica e metodológica do século XIX, ou seja, refiro-me as escolas que ainda manipulam os seus alunos com a lista "massante de conteúdos" que vão cair na prova e ainda por cima usam do famoso behaviorismo de Skiner e Pavlov para promover dados estatísticos e muitas vezes fraudulentos como é o caso da variedade de outdors em campanha de matrículas constando pelo menos uns 30 primeiros lugares...Não que de fato haja tanta gente em 1º lugar, mas na mídia o que importa é Nº de colocação, e as famílias elitistas que adoram vê a fotografia do rebento no outdor do ano que vem, acreditam cegamente na colocação dessa ou daquela escola e na corrida alienada pelo sucesso vestibulesco e agora porque não lembrarmos do ENEM...Pois sim, mas a curiosidade disso tudo é que, pelo que conferi no site aonde divulga o resultado desse ultimo ano de 2009, aqui em Fortaleza o 1º Lugar geral ficou com o Centro Federal Tecnológico do Ceará, mas não será preciso de maneira nenhuma esperar que na próxima pancada de outdors espalhados na cidade teremos os famintos por dinheiro, por fama e por alunos pagantes a velha e básica propaganda sem o menor receio de que possam ser criticados ou questionados pelos motoristas que se deslubram com as várias fotografias espalhadas na cidade de 1º lugar!!! E viva a educação pelo pensar e para o pensar, porque agora como formaram alunos acostumados a passividade de guardarem em suas mentes brilhantes uma enorme lista massante de conteúdos, terão agora a vez de se candidatarem as vagas oportunas nos famosos cursinhos de preparação para o ENEM. E VIVA o povo e empresariado brasileiro que sabe ganhar dinheiro vendendo aos pagantes um novo produto no mercado, a saber, o cursinho que vai ensinar aos alunos como passarem no ENEM...

Fica aqui a seguinte reflexão: Como passarão? SE NÃO foram estimulados a cultura, a leitura, a arte, a imprensa, a curiosidade e a pesquisa...? Deixemos que joguem pérolas aos porcos ou façamos a promoção da leitura como opção e condição para de fato termos alunos pensantes e que refletem sobre aquilo que lêem!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sugestão de Leituras que TODO educador deve fazer para compor sua formação!






Estudar Estudar Estudar...Essa atitude deve compor a vida docente de forma tão corriqueira como se bebe água ou como se troca de roupa! Nós que somos educadores precisamos encarar a vida profissional da gente como uma espécie de religião quando se trata de impregnar o hábito de estudar, ou seja, falo não da parte da alienação que acontece aos religiosos em geral, mas da importância de tornar a vida intelectual, científica do educador uma rotina fomentada em livros, poesias, cultura das letras, cultura da busca, da sede pelo saber...Precisamos "sugar"o que há de mais poético, mais romântico, mais sensato, mais cuidadoso, mais elaborado, mais desafiador, mais encantador no mundo para o nosso universo teórico e metodológico da vida de educador...Por isso, deixo nesse próximo e breve post algumas boas leituras, ricas em pesquisas que farão de vocês visitantes melhores educadores...Compre, peça emprestado, alugue na biblioteca mais próxima, procure num sebo, faça qualquer coisa, mas leia, pesquise e descubra esses livros e autores que cada um deles fez uma enorme marca na minha vida profissional e provocaram em mim uma mudança positiva de atitude DOCENTE!

domingo, 18 de julho de 2010

Partilhas e Produção de Saberes Semana de Formação KERIGMA

Essas duas semanas que passaram nesse mês ventilado de Julho aqui em Fortaleza, no Kerigma, realizamos atividades formativas que transcederam as teorias da educação, ou mesmo pensadores....Fomos resgatar na história de vida de cada professora presente alguns dos saberes oriundos de suas práticas, de suas trajetórias...Mergulhamos em traçar aspectos da rotina, do cotidiano da escola assim também como fizemos uma rota de estudos que nos possibilitou tomarmos capuccino em meio ao cheirinho de livros na livraria cultura da cidade, contemplamos a exposição de arte moderna no Centro Cultural Drãgão do Mar, além de um cineminha...Oficinas de pintura que nos permitiu prestigiar o talento de cada professora em suas impressões em cada jarrinho, assim como a parte que nos dá a base teórica na vasta literatura de educação através de tantas obras pesquisadas. Além de termos tudo isso, fomos presentiadas pelo banquete oferecido por 3 professoras que nos alegraram com seus dotes culinários...Depois fomos nos surpreendendo com outros talentos que foram surgindo...Versos, poesias, Clarisse Lispector veio ao nosso encontro, assim como Rubem Alves, José Pacheco, Cecília Warschauer, Adriana Flávia de Oliveira Lima, Carmem Barbosa, e tantos outros personagens que dão mais sentido e significado a educação!!! Ao final o contentamento de grupo, para o grupo e pelo grupo com gostinho de quero mais, com desejo de continuidade numa assembléia completa de avaliação por todas! Que presente maravilhoso é saber que damos sentido ao nosso saber quando na prática vemos sendo edificado um alicerce sólido de conhecimento! Fico por aqui e deixo de presente uma foto que marca um terço apenas dos momentos vividos!

domingo, 11 de julho de 2010

CARTA DE PRINCÍPIOS DOS ROMANTICOS CONSPIRADORES




... é preciso afirmar que há, no Brasil, muitos professores que dão sentido às suas vidas, dando sentido à vida das crianças e das escolas. Sinto-me um privilegiado por, após três décadas de trabalho numa escola que ousou provar que a utopia é realizável, encontrar no Brasil tanta generosidade e responsável ousadia.” (1)

O movimento Românticos Conspiradores constitui-se de uma rede colaborativa formada por pessoas que militam pela transformação da Educação Pública (2). Nossa finalidade inicial é a de promover a comunicação e o apoio mútuo entre pessoas, organizações e projetos que tenham por objetivo contribuir para a superação dos arcaicos paradigmas educacionais vigentes.

Somos pessoas conscientes de que os modelos educacionais e as práticas educativas possuem decisivas condicionantes sócio-culturais. Este fato exige que, para a transformação da Educação, tenhamos de ultrapassar seu âmbito restrito, englobando as dimensões sociais, políticas e culturais.

Temos a convicção de que a Educação atualmente praticada não contribui para que as gerações futuras tenham condição de superar os cruciais desafios postos para e pela humanidade. Mais do que isso, essa educação acaba por incentivar a formação de pessoas que tendem a reproduzir o modo de pensar, sentir, agir e viver que produziram tais desafios. Para que os atuais paradigmas educacionais possam ser superados é necessário estabelecer novas concepções que apontem formas alternativas de pensar, estruturar e praticar a Educação.

Tendo como síntese de nossa visão o trinômio autonomia-responsabilidade-solidariedade, apresentamos nossos princípios gerais, assim como alguns exemplos de seus desdobramentos educacionais. A finalidade é tanto orientar a ação dos membros da rede Românticos Conspiradores como esclarecer àqueles que queiram participar ou formar novos núcleos. São estes princípios que, a nosso ver, devem fundamentar a vital transformação da Educação, para que esta possa corresponder às necessidades das pessoas e das sociedades contemporâneas.

1. Educar-se para a Integralidade

A educação deve contemplar a humanidade dos educadores e educandos em sua totalidade, sendo coerente com a indivisibilidade das dimensões biológica, mental e espiritual de cada pessoa. Assim como cada ser humano possui diferentes limites, possui também diversas potencialidades que poderão, ou não, ser desenvolvidas e expressas a partir das formações e transformações que ocorrem durante toda a vida. Para isso a educação deve ser um processo intencional, contínuo e transformador, que leve a integralidade e que repercuta durante toda a vida.
Desdobramentos: educação integral (3), transdisciplinaridade, currículo aberto, aprender a conhecer-fazer-conviver-ser, educação continuada.

2. Educar-se em Solidariedade

A educação é um processo relacional, possuindo um caráter social que deve ser assumido nas práticas educativas. A solidariedade, mais do que um objetivo ético a ser atingido, é uma condição primordial para a realização do trabalho educativo. Portanto, este só se desenvolverá plenamente se considerar e incluir as diversas relações entre todos os atores envolvidos: educandos, educadores, gestores, famílias e comunidades. No caso da escola, é indispensável que abra suas portas à comunidade, a fim de constituir-se em pólo integrador e irradiador do saber e do esforço social pela educação, também cabe a escola incentivar a integração dos agentes e espaços comunitários a esse mesmo esforço.
Desdobramentos: comunidade educadora, docência compartilhada, ensino-aprendizagem colaborativo, pedagogia de projetos.

3. Educar-se na Diversidade

A educação deve contemplar a originalidade e a criatividade das pessoas, valorizando a diversidade humana em todos os seus aspectos: físicos, psicológicos, culturais, etc. As práticas educativas devem ser coerentes com o fato de que as pessoas aprendem melhor segundo seus interesses e motivações, em diferentes ritmos e de diferentes formas. A noção de educação na diversidade, associada aos conceitos de integralidade e solidariedade, permite o reconhecimento tanto de nossas singularidades quanto das nossas igualdades, resultantes de nossas condições humanas e socioculturais. As diferenças, nesse contexto, devem ser consideradas como algo inerente ao ser humano, rompendo-se a lógica binária que nos fragmenta em “iguais” de um lado e “diferentes” de outro.
Desdobramentos: educação inclusiva (4), pedagogia da escuta, ensino não seriado, grupos multietários, educação para a paz, pedagogia da autonomia, educação multicultural.

4. Educar-se na Realidade

A educação deve servir para a melhora objetiva da realidade na qual ela ocorre, contribuindo para o chamado desenvolvimento local. Para tanto, ela deve ser contextualizada, integrada à vida dos educandos e de suas comunidades, aberta para a troca de experiências e conhecimentos. A educação só possibilitará à pessoa atuar efetivamente na transformação da sua realidade se proporcionar condições de autotransformação. Em outras palavras, é somente através da promoção de aprendizagens significativas que a educação contribuirá para a transformação humana e social.
Desdobramentos: contextualização, extensão comunitária, ensino ativo, aprendizagem significativa.

5. Educar-se na Democracia

A educação que prepara para a democracia deve se dar através de práticas não-autoritárias, que permitam a ampla participação de educandos, dos educadores, das famílias e da comunidade. Só é possível uma educação para a ação cidadã se a educação for pela e na ação cidadã. As práticas educativas promotoras da liberdade, autonomia, respeito, responsabilidade, eqüidade e solidariedade devem estar associadas aos princípios anteriores para permitir que atinjamos o objetivo maior da auto-responsabilização social (5).
Desdobramentos: educação democrática, não-coercitiva, educomunicação, protagonismo juvenil.

6. Educar-se com Dignidade

A dignidade específica do ofício do educador é derivada da dignidade reconhecida na pessoa do educando. O educador deve ser cônscio do seu importante papel como agente social, assumindo sua missão como tutor dos educandos e facilitador de suas aprendizagens, entendendo que a educação deve ser solidária e coletiva e a aprendizagem um processo de dupla-via – entre o educador-aprendente e educando-ensinante. O tão almejado resgate da autoridade e a revalorização social e profissional do educador passam, necessariamente, pela reformulação das formações iniciais, pela reflexão e atualização permanente das práticas educativas e, principalmente, pela constante busca da coerência entre o fazer pedagógico e as necessidades educacionais dos educandos, suas comunidades e das sociedades em geral.
__________________________________

* Esta carta é produto do trabalho coletivo dos membros do núcleo RC-SP, realizado através de fórum virtual de discussões e reuniões presenciais durante os meses de agosto, setembro e outubro de 2008 e aprovada em assembléia no dia 18/10/2008. A versão desta carta com as assinaturas de adesão pode ser consultada aqui.

(1) José Pacheco, As Escolas Invisíveis, jornal Folha de São Paulo, novembro de 2005.

(2) A educação pública é por nós entendida como aquela voltada para a população em geral e que a todos dê garantias de acesso, sucesso e realização pessoal e social, seja ela de caráter estatal ou privado.

(3) A educação integral é vista aqui como aquela que considera as diversas dimensões da experiência humana: sensorial, cognitiva, emocional, moral, ética, política, cultural, estética, artística, etc.

(4) O termo educação inclusiva é aqui utilizado com ressalvas, uma vez que seu uso só faz sentido em um contexto excludente.

(5) A auto-responsabilização social refere-se à conscientização de que os contextos sociais são responsabilidade de todos e de cada um, visando que as pessoas e comunidades tenham condição de se apropriar das suas realidades e transformá-las.

Plataforma virtual da Rede Românticos Conspiradores aqui.

Férias, Tempo de Arte e Cultura a MAIS........


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No período de Férias é muito natural e salutar a necessidade de todos os professores buscarem sossego, o que não quer dizer que deveriam ficarem alienados das coisas boas da vida que trazem prazer como por exemplo a arte e a cultura, pesquisa viva de forma lúdica e prazerosa...Apesar do meu desaparecimento do blog ATITUDE DOCENTE, estou de volta agora e com a pretensão de alimentar esse espaço virtual levando as partilhas de descobertas que vou fazendo na busca da formação de professores que acreditam que ser professor é saber que descanso na verdade é apenas do corpo e no corpo, mas a mente, a maestria, a criatividade e a cultura deveria ser o prazer a comida de todo professor que se sente educador...Para ficar mais claro trago aqui algumas contribuições pensando nesse mês de JULHO de 2010 e possibilitando parte da listinha de coisas que eu quero fazer, e você vai ficar aí parado? Aproveite que Fortaleza tem se esforçado pra lhe trazer saberes...

Atividades em FAMILIA

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Lauro de Oliveira Lima


Quase 1 ano sem postar no blog por falta de assunto e talvez de motivações relacionadas a minha área de pesquisa...Mas, voltando agora quero poder partilhar através do Atitude Docente uma homenagem ao grande educador Lauro de Oliveira Lima que completou agora recentemente aos 12 de Abril de 2009 ,88 anos de uma vida rica de muita provocação, reflexão e propostas concretas para a formação de professores...Com uma vasta obra que compreende não somente os aspectos epistemológicos da teoria desenvolvida por Jean Piaget, mas também uma imensa contribuição para a transformação do papel do escola e porque não dizer para a uma reconstrução do espaço escolar em toda e qualquer rede de ensino... O texto a seguir foi extraído de uma reportagem do jornal O Povo de Fortaleza e de forma resumida conta um pouco do reconhecimento que deve ser dado ao Lauro pelo que fez e pelo que tem feito ainda hoje através de suas obras pela educação brasileira...Ao meu professor e grande referencial de educador o meu muito obrigada...

A biografia do professor Lauro de Oliveira Lima, como ele próprio gosta de contar-se, tem início no ano de 1921, quando o paulista Lourenço Filho vem ao Ceará para instalar o Instituto de Educação. Ou quando, na Suíça, o filósofo Jean Piaget escreve suas primeiras teorias pedagógicas. O menino de Limoeiro do Norte, terra de mestre Zé Afonso, já nasceu grande. “Sempre fui um educador”, resume, nesta entrevista. Aos 88 anos, ele não tem lembrança de outro destino na vida. Do bê-á-bá com mestre Zé, pulou para o seminário e inventou uma escola. Pousou ali. “Quando sai do seminário, fui ser professor do colégio da cidade. E a Elisabeth foi aluna desse colégio. Começamos a namorar, ela, aluna da escola e eu, professor”, enlaça. Lauro se casou com a neta do educador Agapito dos Santos, moça prendada e inteligente. E deu origem a uma família de pedagogos. São sete filhos, que aprenderam a gostar de ler ouvindo o pai narrar Monteiro Lobato e, hoje, mantém o Centro Educacional Jean Piaget (Rio de Janeiro) e o Colégio Oliveira Lima (Fortaleza). Mesmo quem se formou em Análise de Sistemas, como o caçula, envolveu-se com o grande amor do pai. O professor Lauro manteve-se (mantém-se) fiel à educação. Durante o período da ditadura militar brasileira, por exemplo, foi aposentado aos 43 anos e respondeu a inquéritos que o acusavam de subversivo. Ele nunca entendeu o exílio dentro do País. “Papai era uma pessoa contundente, de brigar pelas idéias... Para ele, tinha que mudar a base: a alfabetização, o ensino fundamental”, explica Ana Elisabeth, a filha com quem divide um recanto, no Recreio dos Bandeirantes (Rio). É Elisabeth quem faz a mediação, nesta conversa por telefone celular. “Ele não gosta de usar o aparelho (que possibilita a audição), mas, comigo, ele usa!”, prometia, dias antes. De fato, no horário marcado, o professor se colocou pronto para ser sabatinado. E respondeu, a seu tempo e modo, todas as questões. Inclusive, as do novo vestibular, proposto pelo Ministério da Educação: “Não acho que o Ministério tenha uma proposta, realmente, de importância para isso, não. Acho que é mais uma novidade, para dizer que mudou”. No caminho para os 90 anos, o professor permanece incansável, levando a bandeira de uma educação renovada. “Falta visualizar uma equipe que lidere a educação no País”, sublinha. E vai todos os dias à escola da família, no Rio, ter com as crianças, os jornais e as revistas. Continua fiel a si. “Teimosíssimo, só faz o que quer”, delata a filha Elisabeth. Resiste tanto ao aparelho auditivo quanto à fisioterapia. E bebe sempre da fonte da juventude. “Ele gosta muito de conversar com o João, um neto dele que tem 14 anos... Do ponto de vista intelectual, papai deve ter uns 18 anos”, desenha Elisabeth. O POVO - O senhor é menino de Limoeiro do Norte. Que retratos o senhor guarda de sua infância, de seus pais, das suas descobertas do mundo? Lauro de Oliveira Lima - Eu fiquei em Limoeiro, desde menino até 15 anos. De maneira que a minha lembrança infantil é até os 15 anos de idade. Os meninos do sertão vivem, tremendamente, todos os momentos. De maneira que eu me lembro de toda a minha infância, até os 15 anos de idade. OP - O senhor era um menino muito danado? Qual a melhor memória que o senhor tem do sertão? Lauro de Oliveira Lima - O menino sertanejo, cedo, começa a participar da vida. Eu, então, fui um menino que, por exemplo, ia deixar o pasto... O que acontecia, o menino era participante. OP - O senhor nasceu no Interior da década de 1920. Como aprendeu a ler e a escrever? Lauro de Oliveira Lima - Os meninos da cidade aprenderam a ler com o mestre Zé Afonso - que era já bem velho, paralítico. Ele ficava sentado numa cadeira e os meninos, nos bancos, em torno dele. E a gente ia, de um por um, lendo para ele ouvir. Que eu me lembre, devia ter uns 20 meninos na classe. OP - E existia a palmatória, nessa educação com o mestre Zé Afonso? Lauro de Oliveira Lima - Ah, a palmatória era fundamental! Às vezes, a gente levava bolo só porque era o método... Eu, sem ter feito nada, o professor dava quatro bolos na gente (risos). De maneira que não era só um castigo, não. Era um modelo de convívio entre o mestre e os alunos. OP - Na sua biografia, o senhor faz questão de dizer que nasceu no ano em que o paulista Lourenço Filho esteve no Ceará para reformar o ensino elementar e instalar o Instituto de Educação. Desde criança, o senhor já pensava em ser professor? Lauro de Oliveira Lima - Não, olhe, eu fui um menino, assim, totalmente, vivendo a vida da cidade, eu era danado e tal... Então, quando completei a idade de 12 anos, fui para o seminário, em Jundiaí, São Paulo. E lá eu passei cinco, seis anos, sendo trabalhado pelos padres. Quando sai, já era rapazinho, então, na hora em que cheguei a Limoeiro, comecei a lecionar na escola que existia. OP - Mas o senhor tinha outros planos quando era criança? Imaginava ser o quê? Lauro de Oliveira Lima - Não me lembro... Menino sertanejo, a gente não tinha grandes aspirações. Sei que aos 12, 13, 14 anos fui para o seminário. E lá eu ia ser padre. É lógico que meu pai e minha mãe achavam importante eu estar no seminário porque eu iria ser padre. Mas, quando cheguei numa idade mais avançada, sai do seminário, voltei pra Limoeiro. Sai do seminário com quase 20 anos. Em Limoeiro, comecei logo a lecionar na escola primária da cidade. Até então, a escola era só do mestre Zé Afonso, da palmatória. E eu comecei a lecionar já numa escola, mais ou menos, avançada. OP - O senhor era um professor exigente? Usava a palmatória? Lauro de Oliveira Lima - Não. Quando comecei a ser professor, a palmatória já tinha sido abolida pelo MEC (Ministério da Educação). As duas: a palmatória preta, que era violenta, e a vermelha, que era mais modesta. OP - E o que o seminário lhe ensinou? Como lhe ajudou na sua formação de professor? Lauro de Oliveira Lima- No seminário, fui o primeiro aluno, sempre. De maneira que eu era um camarada apto a lecionar. Acho que ele me preparou para o magistério. OP - A educação também fez parte do seu destino amoroso. O senhor se casou com a neta do educador cearense Agapito dos Santos. Como conheceu a professora Elisabeth e o que ela tinha que as outras moças da época não tinham? Lauro de Oliveira Lima - Minha mulher era neta do Agapito dos Santos - que foi o educador mais importante da cidade, né? Ele é que lecionou as gerações todinhas. Alcides Santos (Alcides de Castro Santos nasceu em 1889 e era filho do político e professor Agapito dos Santos. Estudou na Europa e fundou o Clube Fortaleza - embrião do Fortaleza Esporte Clube) era o pai dela. De maneira que eu tive uma vida, mais ou menos, importante porque era casado com a filha do homem mais importante da cidade. OP - E como vocês se conheceram? Lauro de Oliveira Lima - Quando sai do seminário, fui ser professor do colégio da cidade. E a Elisabeth foi aluna desse colégio. E foi minha aluna, assim que ela entrou no colégio. Nós começamos a namorar, ela, aluna da escola e eu, professor. OP - Ela era boa aluna? Lauro de Oliveira Lima - Ela tinha estudado no Rio de Janeiro (onde fez o curso Ginasial no Colégio Sacre-Coeur Marie, de praxe na sociedade daquele tempo. Neste momento da entrevista, a ligação fica entrecortada. Mas o fato é que, depois do Ginasial, dona Elisabeth voltou ao Ceará e fez o Curso Normal no Colégio Farias Brito. Dali partiu para o curso de Pedagogia na Universidade Católica do Ceará e para o Curso de Especialização em Orientação Educacional). Então, comecei a namorar a ex-aluna do Sacre-Coeur Marie. OP - O que ela tinha de tão especial que conquistou o senhor? Lauro de Oliveira Lima - Bem, ela era filha de Alcides Santos, uma moça prendada, respeitada, querida. De maneira que namoramos porque ela foi ser minha aluna. Eu pobre e tal, e ela, a princesinha. OP - Aí, no meio do caminho, houve o golpe militar de 1964. O que significou a ditadura para o senhor e sua família? Lauro de Oliveira Lima - Eu fui uma das pessoas perseguidas pelo golpe militar. Não tinha explicação por que os militares me perseguiram. Hoje, não sei explicar porque fui tão perseguido durante a época militar. Eu já tinha filho, já estava casado, de maneira que foi uma coisa dolorosa, para nós, sobreviver perseguidos. Eu perdi meu emprego e lembro que minha mulher assumiu a casa, durante alguns anos. Foi um período, tremendamente, doloroso, esse período em que eu não podia trabalhar porque era perseguido pelos militares. OP - Como o senhor vivia, com sua família grande, nessa época, já que não tinha emprego? Lauro de Oliveira Lima - O trabalho todo foi feito pela Elisabeth. Ela se empregou na Funabem (antiga Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, criada em 1964) e numa escola particular, de maneira que ela tinha o salário de professora para poder manter a família. Manter é maneira de dizer, com a maior dificuldade. E eu vivia ocioso porque não podia ter um emprego, que os militares não deixavam. OP - E como o senhor deu a volta por cima? Lauro de Oliveira Lima - Então, eu inventei a dinâmica de grupo, como atividade de treinamento e comecei a aplicar em várias instituições. Foi assim que me mantive. OP - Antes, na década de 1950, o senhor cria o Ginásio Agapito dos Santos - que lhe torna um dos reformuladores da nossa educação. Naquela época, o que precisava ser mudado, o que precisava se tornar moderno? Lauro de Oliveira Lima - O próprio fato de ser criado o Ginásio Agapito dos Santos significava uma renovação pedagógica. Não tem, assim, “adotou um método e tal”... Eu, sendo um educador, reconhecido e respeitado, era o diretor do novo ginásio e fui logo aceito pela comunidade dos pais. OP - O senhor poderia explicar qual era sua proposta de educação? Lauro de Oliveira Lima - Não sei dizer, não. O fato de eu fundar um ginásio já era um avanço tremendo. Porque, até então, na cidade só tinha a escolinha do mestre Zé Afonso, velhinho, que dava aula em uma roda, os meninos sentados nos bancos. Paralítico, ele sentava em um banco, ficava arrodeado de meninos, com a palmatória e tal. Quem não sabia, ele mesmo aplicava a palmatória. OP - E como o senhor foi reformando essa escola? Lauro de Oliveira Lima - Quando fiquei mais adulto, inventei o método de dinâmica de grupo e comecei a dar essa atividade para várias cidades do Brasil. A dinâmica de grupo era uma novidade inventada por mim. OP - O senhor teve a influência do filósofo Jean Piaget, que era um dos seus livros de cabeceira... Lauro de Oliveira Lima - A uma certa altura da minha vida profissional, ganhei de presente um livro de um autor suíço que era a vida de Piaget. E, através dele, eu aprendi Piaget... E Piaget não era conhecido, eu que traduzi Piaget no Brasil. OP - Então, para inventar seu próprio método de ensino, foram muitos anos de pesquisa... Lauro de Oliveira Lima - Quando sai do seminário, comecei a lecionar e já comecei a falar em Piaget, pelos livros que me deram de presente, e conhecia Piaget teoricamente. De maneira que a transição entre a minha iniciação no ensino e a metodologia foi imperceptível. OP - Qual a base do seu método de ensino? Lauro de Oliveira Lima - Eu inventei a dinâmica de grupo, que é um trabalho que tem um grupo de alunos... Eu trabalhava com 25 alunos, em várias cidades, e esses alunos debatiam entre si. Eu era mais um supervisor - não era, propriamente, uma pessoa que desse aula. Eu fazia os grupos se reunir e conversar entre si. Daí nasceu o método dinâmica de grupo. Os grupos criavam situações que tinham que debater e resolver, eles mesmos inventavam métodos de pedagogia. OP - Para o senhor, em que pontos a educação brasileira ainda precisa mudar, tornar-se moderna? Lauro de Oliveira Lima - Não tem um educador, assim, como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, que ensinaram a gente, o pessoal da Escola Normal, das universidades... Falta visualizar uma equipe que lidere a educação no País. OP - E as mudanças devem começar onde? No Ensino Fundamental, no Ensino Médio, no Ensino Superior? Lauro de Oliveira Lima - A mudança fundamental é no primário, a maneira de lecionar. É a partir daí que se formam as equipes para o ensino superior. OP - Agora mesmo o Ministério da Educação (MEC) discute, com as universidades federais, as mudanças no vestibular. Uma das principais justificativas dessa mudança é que ela vai repercutir no ensino médio, mudando a forma de ensinar e de aprender. Qual sua avaliação sobre o processo seletivo atual do nosso vestibular? E o senhor concorda com as mudanças propostas pelo MEC? Lauro de Oliveira Lima - Eu estou acompanhando esse projeto de modificação do MEC. Vamos ver o que vai acontecer... eu não acho que o Ministério tenha uma proposta, realmente, de importância para isso, não. OP - Em 1996, o senhor lançou um livro chamado Para que Servem as Escolas?. Eu gostaria de usar essa pergunta nesta entrevista: para que servem as escolas, professor? Lauro de Oliveira Lima - A gente tem a impressão de que os livros que são postos à disposição do magistério não levantam os problemas fundamentais. Estamos em um período intermediário, que deve ser renovado por um educador que lidere o sistema escolar de maneira relevante. OP - Por que a escola pública ainda não deu certo neste País? Lauro de Oliveira Lima - Essa pergunta é difícil de responder... O que a escola faz, por exemplo, é que o professorado é levado a discutir problemas que não modificam a essência do ensino, a pedagogia. OP - O senhor já caminha, incansavelmente, para os 90 anos. Qual a maior lição que a vida lhe deu? Lauro de Oliveira Lima - (risos) A vida? Bom, eu sempre fui um educador. Quando sai do seminário, no dia seguinte, comecei a lecionar numa escola normal e daí para frente nunca deixei de ser professor. Então, eu não sei nem lhe dizer o que é bom ou ruim nos outros métodos, porque eu só tenho um método na vida. OP - E foi feliz com essa profissão... Lauro de Oliveira Lima - Eu fico feliz de ser um educador permanente e de estar sempre me renovando e pensando o processo pedagógico de uma maneira entusiasmada. E à medida que meus filhos foram crescendo, foram se tornando também pedagogos. De maneira que tenho uma família de pedagogos, o que me envaidece muito e me lembra que eu fui o iniciador. PERFIL Lauro de Oliveira Lima nasceu no dia 12 de abril de 1921, em Limoeiro do Norte (194,1 quilômetros de Fortaleza). Foi alfabetizado pelo mestre Zé Afonso, único professor por aquelas bandas. Para completar os estudos primários, migrou para um seminário em Jundiaí (São Paulo). De volta ao Estado, torna-se professor e noivo da neta de Agapito dos Santos (nessa ordem), Maria Elisabeth. > Em 1945, o professor Lauro conquista o cargo de Inspetor Federal de Ensino, um dos braços do antigo Ministério da Educação e Cultura, passando a morar em Brasília. Exerce a função durante 20 anos. Em 1949, forma-se em Direito e, dois anos depois, em Filosofia. > Seu trabalho como “reformador da educação” é exercido, plenamente, no Ginásio Agapito dos Santos - fundado por ele, nos anos 50. Influenciado pelos escritos do psicólogo e filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980), o professor Lauro idealiza o Método Psicogenético de ensino. O livro Escola Secundária Moderna (Inep, 1963) é uma das principais referências, entre as mais de 30 obras escritas por ele, dessa metodologia que considera o trabalho por equipes e a criação de situações-problema de acordo com o nível mental da criança. > Perseguido nas décadas da ditadura militar brasileira, acusado de subversivo, muda-se para o Rio de Janeiro para responder aos inquéritos policiais. Sem mais emprego, o professor ocupa-se com seus pensamentos sobre educação. Traslada Piaget para o Brasil, em livros como Piaget para Principiantes e Uma Escola Piagetiana e, em 1972, cria o Centro Educacional Jean Piaget (Rio de Janeiro). A vida, então, recomeça. E-Mais > O filósofo suíço Jean Piaget (1896-1980) foi o professor fundamental para o educador Lauro de Oliveira Lima. Piaget, por sua vez, também cientista e psicólogo, dialogou com as teorias de Immanuel Kant, Herbert Spencer, Auguste Comte, William James, Theodore Ribot, Pierre Janet, Arnold Reymond, Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. > Piaget se dedicou ao estudo da inteligência e se tornou a principal referência em Epistemologia Genética. Para ele e seu método de ensino, a aprendizagem é um processo que começa no nascimento e vai até a morte do indivíduo. Ou seja, é necessário considerar as várias etapas do desenvolvimento humano. > A teoria piagetiana sublinha: tudo o que aprendemos é influenciado por nosso repertório de conhecimentos. O ser humano não é apenas um repositório de informações; temos a capacidade (inteligência) para interagir com o saber exterior. “O principal objetivo da educação é criar indivíduos capazes de fazer coisas novas e não, simplesmente, repetir o que as outras gerações fizeram”, defendia. > As ideias de Jean Piaget também influenciaram estudiosos como o cientista social Jürgen Habermas, o pensador marxista Lucien Goldmann e a pedagoga Emília Ferreiro, por exemplo. Tal pai, tal filho. Desde que o caçula nasceu, dá-se a confusão. Muitas entrevistas já buscaram o professor Lauro de Oliveira Lima e foram ter com herdeiro, Lauro Henrique de Oliveira Lima. Uma vez mais, foi o diretor do Colégio Oliveira Lima quem recebeu O POVO, na primeira tentativa de se entrevistar o professor Lauro. “Já sei, vocês querem falar é com meu pai, não é?”, respondeu ao desapontamento da repórter. Mas não se deu viagem perdida ao Colégio Oliveira Lima. Lauro Henrique remexeu o baú da família e revelou histórias do tempo de infância. Contou um pouco da metodologia que o pai, educador, aplicava em casa: não havia mesada, mas cada um ganhava alguns cruzeiros se fizesse o resumo dos livros lidos. Assim, todos se tornaram leitores! “Nossa casa é uma biblioteca, tem livro no banheiro! Somos cercados de livros e revistas”, ratifica Ana Elisabeth Santos de Oliveira, outra herdeira do professor Lauro. Ela lembra que o pai ensinava a não ser aquele aluno-primeiro-lugar. “Porque você está se adaptando ao sistema... O negócio era ler. Ele leu Monteiro Lobato para nós”, colore. É a filha Ana Elisabeth que completa o pensamento do professor Lauro, ao fim da entrevista. “Para o papai, o computador é igual à máquina de calcular: não tem função pedagógica”, diz, sobre o ensino atual. A respeito das mudanças no vestibular das universidades federais, o professor costuma aconselhar: “O ministro (da Educação) deve estudar pedagogia”. “Para o papai, tem que treinar o professor e valorizá-lo”, destaca Elisabeth. A ditadura militar é um longo capítulo na memória da família Oliveira Lima. No primeiro ano do golpe, recupera Ana Elisabeth, os filhos do professor Lauro foram reprovados no colégio. “Ficamos até traumatizados e recolhidos em casa”, diz. “E a escola era muito chata, ninguém podia dar opinião. E ninguém podia saber de quem éramos filhos”, completa. Perseguido pelos militares, Lauro de Oliveira Lima perdeu o emprego no Ministério da Educação e só encontrou o rumo na década de 1970, quando desenvolveu o método educacional da dinâmica de grupo e fundou o Centro Educacional Jean Piaget. Ele não aceitou nem a ajuda do sogro, nem o exílio. “Paulo Freire chamava, mas ele dizia que tinha muita dificuldade de sair do Brasil. E a gente ficou no Rio, mais ou menos, exilados”, conta Elisabeth.